sexta-feira, 27 de março de 2015

'Rocky, Um Lutador' volta aos cinemas do País

Em meados dos anos 1970, a 'América' vivia uma crise de confiança. As denúncias dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward no The Washington Post sobre o envolvimento de Richard Nixon no assalto à sede do Partido Democrata produziram um escândalo que levou à renúncia do presidente, para evitar o impeachment. Todo esse processo foi demorado e a quebra de confiança nas instituições produziu uma crise moral. O cinema transformou-a em quebra de confiança nas relações interpessoais e produziu grandes filmes como "Um Lance no Escuro", de Arthur Penn. Na sequência, foi eleito Jimmy Carter e os EUA pareciam viver um (re)começo. Faltava um motivador para a nação.
 
Reprodução
Rocky, Um Lutador, será exibido neste final de semana pela rede CinemarkRocky, Um Lutador, será exibido neste final de semana pela rede Cinemark



"Rocky, Um Lutador" ganhou os Oscars de filme e direção de 1976 e transformou em astro um ator meio bronco que, até então, fizera somente pequenos papeis. Além de atuar, Sylvester Stallone, escreveu o roteiro. Foi indicado para o prêmio da Academia, mas perdeu para o de "Rede de Intrigas", de Paddy Chayefsky. O próprio Rocky venceu "Todos os Homens do Presidente", de Alan J. Pakula, com Robert Redford e Dustin Hoffman como Woodward e Bernstein e que abordava de forma mais direta o escândalo de Watergate. Rocky venceu também "Motorista de Táxi" (Taxi Driver), de Martin Scorsese. O milagre que transformou o filme 'pequeno' num estouro foi devolver a confiança aos norte-americanos. Outro milagre é que, passados quase 40 anos, "Rocky, Um Lutador" não tenha perdido o encanto. É a atração da vez na série de clássicos restaurados da rede Cinemark. Talvez não seja 'clássico', mas é, com certeza, 'cult'.

Na história, Rocky Balboa é um zé-ninguém cuja vida patina. Lutador de últimas categoria, vivendo num cortiço, ele se acha um fracassado. Para comemorar o bicentenário da independência, o campeão Apollo Creed vale-se de um golpe de publicidade e propõe enfrentar um desconhecido, numa luta válida pelo título. Rocky treina, e vence. Na fantasia do filme, milagres acontecem - na América. Rocky/Stallone é a prova de que, com dedicação e esforço, pode-se superar não importa o quê. Uma vez na liça, Rocky tem muitas oportunidades de desistir com honra, mas ele vai até o fim. Vira o herói da massa anônima. Duas pessoas são decisivas no processo - sua mulher, Adrienne/Talia Shire, e o velho treinador, Mickey/Burgess Meredith.

É um raro filme do boxe que enfatiza a importância do treinador e do treinamento. Rocky dá duro correndo nas ruas de Filadélfia ao som do score de Bill Conti, tão triunfal que compete até hoje com o de Vangelis em "Carruagens de Fogo", de Hugh Hudson, como tema de formaturas e eventos motivacionais. E Adrienne é um doce. É tímida, avessa à violência. O diretor John G. Avildsen com certeza viu "Marcado pela Sarjeta" (Somebody Up There Likes Me), que Robert Wise realizara 20 anos antes. Outra história de pugilista italiano, e as cenas da aproximação de Paul Newman e Pier Angeli possuem uma ternura que só não é repetida na íntegra porque Stallone não consegue representar como Newman. Mas ele é ótimo, dentro do conceito traçado pelo ator e roteirista. "Você tem de ser um idiota para ser lutador." Isso não o impede de fazer com que Rocky use o esporte de forma positiva, para se afirmar.

Surgiram na sequência Rocky 2, 3, 4 e 5. Stallone foi dirigindo as sequências, menos a últimas, à qual voltou John G. Avildson. No meio, o diretor criou as série "Karatê Kid", com Ralph Macchio, sobre um lutador juvenil. E o próprio Stallone se envolveu em outra série, "Rambo". O primeiro filme, dirigido por Ted Kotcheff, é muito bom e pode ser visto como um estudo das consequências domésticas da Guerra do Vietnã na vida norte-americana. O problema é que Stallone se alinhou com o presidente republicano Ronald Reagan, virou seu porta-voz no cinema e Rambo venceu, na ficção, a Guerra do Vietnã, que os EUA haviam perdido na realidade (em "Rambo, a Missão"), e ainda bateu os soviéticos em "Rambo III", no Afeganistão. Até Rocky entrou na onda de ideologização à direita e, em "Rocky IV", venceu o campeão soviético, Drago (Dolph Lundgren). Tudo isso veio depois. No primeiro Rocky, o personagem é irresistível, encantador. Difícil não torcer por ele ou se identificar com ele.


Serviço

As sessões de "Rocky, Um Lutador" serão realizadas no sábado, 28 (às 23h55) domingo, 29, (às 12h) e quarta-feira, 1º. (às 20h). Os ingressos podem ser comprados na semana de exibição de cada filme, nas bilheterias e no site www.cinemark.com.br.

Fonte: Tribuna do Norte